sexta-feira, 31 de maio de 2013

“...um livro, uma página de livro apenas, por menos ainda, uma simples gravura em um exemplar antigo, herdado talvez da mãe ou da avó, poderá fertilizar o terreno no qual a primeira e delicada raiz desse impulso começa a se desenvolver.” Walter Benjamin
 
Os mediadores da leitura nem sempre estarão enraizados nos meios familiares, nas instituições escolares. Muitas vezes, é em meio a outras situações, culturalmente significativas, que o sujeito encontrará alimento para o seu pleno desenvolvimento enquanto leitor.
          A observação dos relatos autobiográficos contribui para a compreensão de diversos elementos em jogo na formação do leitor. Cada um, de sua forma, desenvolve-se em um contexto histórico e cultural determinado.
          Relendo o comentário de Marilena Chauí, “..como leitores, descobrimos nossos próprios pensamentos e nossa própria fala graças ao pensamento e à fala de um outro...” e analisando o pensamento de Calligaris, “...a literatura é o catálogo das vidas possíveis e impossíveis..”, vou começar meu depoimento, das experiências com a palavra escrita, com um paradoxo:
          Aprendi a ler com a minha mãe, que era, e ainda é, analfabeta. E isso é muito curioso, pois quando minha mãe precisava ler as cartas, procurávamos uma vizinha que ficava lendo comigo. Ao chegar em casa, minha mãe pedia para eu olhar de novo a carta e eu conseguia reler, um pouco porque lembrava das notícias, um pouco porque eu reconhecia algumas palavras.
          Na escola, a leitura era monótona: letras e palavras soltas, separadas, sem uma história, tudo isolado, sem contexto. Foi aí que me interessei pelos livros que me cativavam pelas imagens e histórias. Como eu não reconhecia muitas palavras, as histórias que eu lia eram um pouco a parte lida, um pouco a ilustrada e grande parte, a criada por mim. Estava nascendo em mim o leitor escritor.....    
 
ELIE AZIZ CHAMOUN