“...um livro, uma página de livro apenas, por menos
ainda, uma simples gravura em um exemplar antigo, herdado talvez da mãe ou da
avó, poderá fertilizar o terreno no qual a primeira e delicada raiz desse
impulso começa a se desenvolver.” Walter Benjamin
Os mediadores da leitura nem sempre estarão enraizados nos meios
familiares, nas instituições escolares. Muitas vezes, é em meio a outras
situações, culturalmente significativas, que o sujeito encontrará alimento para
o seu pleno desenvolvimento enquanto leitor.
A observação dos relatos
autobiográficos contribui para a compreensão de diversos elementos em jogo na
formação do leitor. Cada um, de sua forma, desenvolve-se em um contexto
histórico e cultural determinado.
Relendo o comentário de Marilena Chauí,
“..como leitores, descobrimos nossos próprios
pensamentos e nossa própria fala graças ao pensamento e à fala de um outro...” e analisando o
pensamento de Calligaris, “...a literatura é o
catálogo das vidas possíveis e impossíveis..”, vou começar meu depoimento, das
experiências com a palavra escrita, com um paradoxo:
Aprendi a ler com a minha mãe, que
era, e ainda é, analfabeta. E isso é muito curioso, pois quando minha mãe
precisava ler as cartas, procurávamos uma vizinha que ficava lendo comigo. Ao
chegar em casa, minha mãe pedia para eu olhar de novo a carta e eu conseguia
reler, um pouco porque lembrava das notícias, um pouco porque eu reconhecia
algumas palavras.
Na escola, a leitura era monótona:
letras e palavras soltas, separadas, sem uma história, tudo isolado, sem
contexto. Foi aí que me interessei pelos livros que me cativavam pelas imagens
e histórias. Como eu não reconhecia muitas palavras, as histórias que eu lia
eram um pouco a parte lida, um pouco a ilustrada e grande parte, a criada por
mim. Estava nascendo em mim o leitor escritor.....
ELIE AZIZ CHAMOUN